As fusões e aquisições (M&As) são eventos estratégicos que atraem atenção significativa no mundo corporativo devido ao seu potencial de gerar valor para empresas e acionistas. No entanto, os resultados dessas operações são complexos e variam amplamente, conforme demonstrado por diversos estudos acadêmicos realizados ao longo das últimas décadas. Neste artigo, exploraremos os principais achados da literatura sobre o impacto das M&As no mercado.
A complexidade dos resultados em Fusões e Aquisições
Os estudos analisados indicam que os ganhos das M&As podem ser percebidos de maneiras diferentes por acionistas de empresas-alvo e adquirentes. Frequentemente, acionistas das empresas-alvo obtêm maiores benefícios financeiros, devido à habilidade de negociar prêmios mais elevados ou à ineficiência dos adquirentes em prever os desafios de integração pós-fusão.
Por outro lado, a eficiência do mercado de capitais em reagir a notícias sobre M&As é amplamente reconhecida. As ações das empresas envolvidas geralmente ajustam seus preços rapidamente após o anúncio de uma fusão ou aquisição, refletindo as novas expectativas de mercado.
Motivação e desafios em M&As
A motivação para fusões e aquisições varia significativamente entre empresas. Algumas buscam criar valor para os acionistas através de sinergias operacionais e financeiras, enquanto outras são impulsionadas por objetivos gerenciais, como o aumento de poder e influência. No entanto, nem sempre as expectativas de sinergias são concretizadas, e muitas fusões falham em gerar os benefícios esperados.
Adicionalmente, a diversificação como estratégia de M&A é frequentemente criticada. Estudos mostram que investidores podem alcançar os mesmos níveis de diversificação de risco por meio de seus portfólios, sem a necessidade de fusões que envolvam empresas de diferentes setores.
Perspectivas da pesquisa acadêmica
Abaixo, destacamos os principais achados de estudos relevantes sobre fusões e aquisições:
- Halpern (1973): Concluiu que grandes empresas obtêm ganhos médios positivos em fusões, com divisão proporcional de ganhos entre empresas grandes e pequenas.
- Mandelker (1974): Mostrou que acionistas de empresas-alvo e adquirentes obtêm retornos anormais, reforçando a eficiência do mercado.
- Haugen e Langetieg (1975): Identificaram pouca evidência de sinergias em fusões, sugerindo que acionistas poderiam alcançar resultados semelhantes através da combinação de portfólios.
- Bradley, Desai e Kim (1988): Demonstraram que aquisições bem-sucedidas aumentam o valor combinado das empresas envolvidas em média 7,4%.
- Morck, Shleifer e Vishny (1990): Identificaram retornos menores ou negativos para adquirentes em fusões voltadas para diversificação.
Estes são apenas alguns dos muitos estudos que refletem a complexidade do impacto das M&As no mercado. O desempenho financeiro pós-fusão está diretamente relacionado a fatores como a eficiência na integração, sinergias esperadas e estratégias corporativas.
Conclusão
As fusões e aquisições são ferramentas poderosas para crescimento corporativo, mas também apresentam desafios significativos. A diversidade de resultados observados na literatura acadêmica reforça a importância de análises criteriosas e planejamentos estratégicos. Empresas interessadas em explorar oportunidades de M&A devem considerar cuidadosamente suas motivações e alinhar expectativas realistas aos objetivos estratégicos.
Se bem-sucedidas, as M&As podem gerar retornos expressivos para todas as partes envolvidas. No entanto, o risco de falhas também é alto, tornando fundamental o uso de uma abordagem fundamentada e profissional para minimizar possíveis prejuízos e maximizar os benefícios.
Referências
Halpern, P. J. Empirical estimates of the amount and distribution of gains to companies in mergers. Journal of Business, Chicago: University of Chicago, v. 46, n. 4, p. 554-575, Oct. 1973.
Mandelker, G. Risk and return: the case of merging firms. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 1, n. 4, p. 303-335, Dec. 1974.
Haugen, R. A.; Langetieg, T. C. An empirical test for synergism in mergers. The Journal of Finance, Chicago: American Finance Association, v. 30, n. 4, p. 1003-1014, Sep. 1975.
Ellert, J. C. Antitrust law enforcement and stockholder returns. The Journal of Finance, Chicago: American Finance Association, v. 31, n. 2, p. 715-732, May 1976.
Firth, M. Synergism in mergers: some British results. The Journal of Finance, Chicago: American Finance Association, v. 33, n. 2, p. 670-672, May 1978.
Kummer, D. R.; Hoffmeister, J. R. Valuation consequences of cash tender offers. The Journal of Finance, Chicago: American Finance Association, v. 33, n. 2, p. 505-516, May 1978.
Dodd, P. Merger proposal, management discretion and stockholder wealth. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 8, n. 2, p. 105-137, Jun. 1980.
Bradley, M. Interfirm tender offers and the market for corporate control. Journal of Business, Chicago: University of Chicago, v. 53, n. 4, p. 345-376, Oct. 1980.
Firth, M. Takeovers shareholders returns, and the theory of the firm. The Quarterly Review of Economics and Finance, Champaign: University of Illinois, v. 94, n. 2, p. 235-260, Mar. 1980.
Asquith, P. Merger bids, uncertainty and stockholder returns. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 11, n.1-4, p. 51-83, Apr. 1983.
Asquith, P.; Bruner, R.; Mullins Jr., D. W. The gains to bidding firms from mergers. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 11, n.1-4, p. 121-139, Apr. 1983.
Bradley, M.; Desai, A.; Kim, E. H. Synergistic gains from corporate acquisitions and their division between stockholders of target and acquiring firms. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 21, n.1, p. 3-40, May 1988.
DeAngelo, H.; Rice, E. M. Antitakeover charter amendments and stockholder wealth. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 11, n. 1-4, p. 329-359, Apr. 1983.
Eckbo, B. E. Horizontal mergers, collusion, and stockholder wealth. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 11, n. 1-4, p. 241-273, Apr. 1983.
Malatesta, P. H. The wealth effect of merger activity and the objective functions of merging firms. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 11, n. 1-4, p. 155-181, Apr. 1983.
Schipper, K.; Thompson, R. Evidence on the capitalized value of merger activity for acquiring firms. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 11, n. 1-4, p. 85-119, Apr. 1983.
Wier, P. The costs of antimerger lawsuits: evidence from the stock market. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 11, n.1-4, p. 207-224, Apr. 1983.
Dennis, D. K.; McConnell, J. J. Corporate mergers and security returns. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 16, n. 2, p. 143-187, June 1986.
Huang, Y. S.; Walkling, R. A. Target abnormal returns associated with acquisition announcements: payment, acquisition form, and managerial resistance. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 19, n. 2, p. 329-349, Dec. 1987.
Bradley, M.; Desai, A.; Kim, E. H. Synergistic gains from corporate acquisitions and their division between stockholders of target and acquiring firms. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 21, n.1, p. 3-40, May 1988.
Franks, J. R.; Harris, R. S. Shareholder wealth effects of corporate takeovers: the UK experience 1955-85. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 23, n. 2, p. 225-249, Aug. 1989.
Kaplan, S. The effect of management buyouts on operating performance and value. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 24, n. 2, p. 217-254, Oct. 1989.
Morck, R.; Shleifer, A.; Vishny, R. W. Do managerial objectives drive bad acquisitions. The Journal of Finance, Chicago: American Finance Association, v. 45, n. 1, p. 31-48, Mar. 1990.
Vijh, A.M. The spin-off and merger ex-date effects. The Journal of Finance, Chicago: American Finance Association, v. 49, n. 2, p. 581-609, June 1994.
Servaes, H. The value of diversification during the conglomerate merger wave. The Journal of Finance, Chicago: American Finance Association, v. 51, n. 4, p. 1201-1225, Sep. 1996.
Switzer, J. A. Evidence on real gains in corporate acquisitions. Journal of Economics and Business, v. 48, n. 5, p. 443-460, Dec. 1996.
Denis, D. J.; Denis, D. K.; Sarin, A. Agency problems, equity ownership, and corporate diversification. The Journal of Finance, Chicago: American Finance Association, v. 52, n. 1, p. 135-160, Mar. 1997.
Ghosh, A.; Ruland, W. Managerial ownership, the method of payment for acquisitions, and executive job retention. The Journal of Finance, Chicago: American Finance Association, v. 53, n. 2, p. 785-798, Apr. 1998.
Maquieira, C. P.; Megginson, W. L.; Nail, L. Wealth creation versus wealth redistributions in pure stock-for-stock mergers. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 48, n. 1, p. 3-33, Apr. 1998.
Rau, P. R.; Vermaelen, T. Glamour, value and the post-acquisition performance of acquiring firms. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 49, n. 2, p. 223-253, June 1998.
Ely, D. P.; Song, M. H. Acquisition activity of large depositary institutions in the 1990s: an empirical analysis of motives. The Review of Economics and Finance, Champaign: University of Illinois, v. 40, n. 5, p. 467-484, 2000.
Song, M. H.; Walkling, R. A. Abnormal returns to rivals of acquisition targets: a test of the “acquisition probability hypothesis”. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 55, n. 2, p. 143-171, June 2000.
Ghosh, A. Does operating performance really improve following corporate acquisitions? Journal of Corporate Finance, Amsterdam: Elsevier Science, v. 7, n. 2, p. 151-178, June 2001.
Graham, J. R.; Lemmon, M. L.; Wolf, J. G. Does corporate diversification destroy value? The Journal of Finance, Chicago: American Finance Association, v. 57, n. 2, 695-720, Apr. 2002.